segunda-feira, 2 de maio de 2011

Clarice, I

Compartilhando a atual leitura.

"Mediante o improvável auxílio de um pedaço de chiclete, Tania introduziu sua irmã caçula [Clarice Lispector] no 'penoso dramático' conceito de eternidade. Tania comprou para ela uma novidade no Recife - chiclete - e disse: 'Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira'. Uma perplexa Clarice o apanhou, 'quase não podeia acreditar no milagre', e Tania mandou-a 'mascar para sempre'. Clarice ficou aterrorizada, sem querer confessar que não estava à altura da eternidade", que a ideia a atormentava, mas ela não ousava. Finalmente, quando elas estavam indo para a escola, conseguiu deixar o chiclete cair na areia, simulando decepção e constrangida por estar mentindo à irmã. 'Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.'"

Trecho de Clarice, [biografia] - de Benjamin Moser.

Um comentário:

pequeno pirata disse...

que perfeito! fantástico!
adoro achados de intensa humanidade - mais - de complexa humanidade, em coisinhas assim tão, assim... humanas...
é como aquele que faz o "chá de habu pra te curar da tosse e do chulé"